O último presidente em exercício foi derrotado nas urnas por um ex-presidente que cumpriu oito anos de mandato. Este foi condenado à prisão e cumpriu quase 2 anos devido a um esquema de corrupção que estava sendo investigado pelos órgãos competentes, porém a investigação perdeu credibilidade e força depois que o juiz encarregado do caso demonstrou parcialidade no julgamento e negligenciou a apresentação de provas para chegar à condenação, o que transpareceu para a opinião pública (e para uma grande parcela de juristas) que tudo fazia parte de um grande jogo nefasto de poder.

O presidente eleito no término do seu segundo mandato, elegeu como sucessora outra pessoa que ganhou a eleição e cumpriria igualmente dois mandatos, se não fosse a não aceitação do resultado das urnas pelo seu adversário que mobilizou um impeachment, interrompendo pela metade o segundo mandato. Mais tarde foi comprovado que as causas motivaram o impeachment não eram legítimas, mas isso não convenceu a todos, pois alguns ainda eram da opinião de que a má gestão da economia, do ponto de vista dos princípios econômicos dos opositores ideológicos, seria sim motivo de impedimento. Até hoje me pergunto se os problemas econômicos que sucederam daí foram decorrentes de uma má gestão ou se foram devido ao impeachment, que é um ato que sempre ameaça a estabilidade política, social e econômica do país. Certo é que, a partir desta forçada troca de Chefe de Estado e Governo, um vácuo de poder surgiu e abriu caminho para a manifestação de pensamentos torpes que são recheados de teorias conspiratórias que vão desde a ameaça de fechamento das igrejas, instauração do comunismo no Brasil, de anticiência com discursos anti-vacina em tempos de Covid e afirmações de que a Terra é plana! Um verdadeiro hospício.

Voltando às últimas eleições. Uma parcela dos adeptos do então presidente em exercício, manifestou algumas pautas que fundamentariam uma oposição radical ao presidente eleito, são elas: ameaça comunista devido ao longo período do Partido dos Trabalhadores que somou 12 anos no poder; escândalos de corrupção que emergiram devido à independência de investigação que foi dada aos órgãos competentes durante o mesmo período (um paradoxo que vale uma reflexão); a suposta falta de confiabilidade nas urnas eletrônicas, que se provaram confiáveis após avaliações técnicas; e uma suposta falta de lisura no processo eleitoral que nunca foi evidenciada.

Essa falange do mal construiu um esquema de milícia digital, que dentre as acusações, espalhou fake news que favoreciam suas reinvindicações, mesmo demonstradas ilegítimas, que confundiu (e ainda confunde) uma grande parcela da população, que como uma massa manipulada, somou votos a favor do perdedor, dando ares de “aparente relevância democrática” no final do segundo turno. Todas essas expressões nefastas de pensamentos perfeitamente alinhados ao seu representante maior, que apesar dos esforços inúteis, via seu capital político derreter no cenário nacional e internacional, principalmente pela péssima gestão de uma das piores crises sanitárias que a humanidade já vivenciou, o que lhe rendeu o título de genocida, dado a sua negligência para com a vida humana, que levou à morte mais de seiscentos milhões de brasileiros. E não para por aí, mostrou-se contrário ao lockdown priorizando a economia em relação à vida humana, influenciou os brasileiros a não se vacinarem, receitou remédio ineficiente e ainda é acusado de desvio de verbas públicas durante o período de pandemia. Uma tragédia anunciada que será escrita com o sangue dos inocentes mortos nas páginas da História que se perpetuarão nas lágrimas das famílias que perderam seus entes queridos. Que isso nos sirva de lição para que jamais cometamos os mesmos erros.

Após a posse do presidente eleito, um grupo de apoiadores do derrotado, que já estava acampado há meses em frente aos quartéis generais do Exército pedindo intervenção militar em todo o Brasil, tiveram seus pedidos atendidos quando resolveram invadir e depredar os prédios que representam os grandes símbolos da política democrática do país, os Três Poderes: o Executivo, Legislativo e Judiciário, numa manifestação criminosa e inequívoca de terrorismo e de oposição ao que há de mais valioso e que garante um relativo bem estar social, a democracia. O Distrito Federal teve seus líderes afastados da posição, outros exonerados por terem vínculo com o ex-presidente, e um estado de exceção se instaurou até o final de janeiro de 2023 por lá.

A democracia, como sistema de participação do povo nas decisões da polis, evoluiu desde os tempos gregos até hoje e são representadas por esses Três Poderes como símbolos que devemos respeitar, porque eles garantem um certo equilíbrio e harmonia na sociedade, sem o qual ela entraria em colapso, podendo levar a um Estado de Exceção, onde os direitos e liberdades individuais são reduzidos, para uma minoria eliminados, diga-se de passagem, até que haja novamente a garantia da ordem e o poder possa ser restabelecido em um Estado de Direito.

O último período em que a sociedade viveu um regime de exceção, a História denuncia abuso de poder e falta de diálogo com o contraditório, impondo pela força um pensamento absolutista e não inclusivo, levando a óbito centenas de inocentes, muitos desaparecidos, sem contar o declínio econômico que deu bastante trabalho para colocar nos trilhos novamente.

Quem se manifesta contrário à democracia é a favor da imposição das suas ideias sobre a dos demais pela força, sem levar em consideração as diversas realidades que existem num país com dimensões continentais como o nosso. É análogo à Idade Média, onde quem discordava dos princípios estabelecidos pela Igreja, poderia ser condenado à morte, como aconteceu de fato em larga escala.

Os sinais de um golpe de estado já vinham sendo interpretados e denunciados há bastante tempo por diversos segmentos da classe política e pela mídia. A tolerância democrática permitiu que o excreto pensamento nefasto ganhasse força e mentes terroristas o dessem guarida. Havia um aparente cenário propício para o golpe, um “ex-militar” como presidente e militares no alto escalão do governo e espalhados em diversas instituições. Alguma possibilidade de golpe teria se o ex-presidente gozasse de real prestígio nas Forças Armadas, o que não é necessariamente verdade, uma vez que ele “fugiu” para a política depois de ter sua reputação manchada por insubordinação à hierarquia e de ser acusado de armar um plano de atentado com bomba no quartel, plano que supostamente ele teria feito de próprio punho, levando a um controverso julgamento de expulsão que não se realizou e ele se safou após se eleger como vereador, sendo encaminhado para a reforma. Nota-se que o terrorismo já assombra o ex-presidente desde antes de ingressar na política. Será só simples coincidência?

O movimento terrorista, que tem o ex-presidente como seu líder, em uma espécie de alucinação coletiva, alimentada pelos pensamentos nefastos que permeou o governo de seu representante, imaginou que ao invadir, depredar, urinar e defecar nos prédios que representam os símbolos da nossa democracia, reverteria o resultado das urnas ou traria de volta o mentecapto que sequer se manifestou contrário aos atos de vandalismo contra a instituição que ele mesmo foi representante durante 4 anos!

Será que este excreto movimento que atua injustamente sobre a alcunha de patriotas realmente pensou na Pátria? Foi o mais baixo ataque à construção daquilo de mais valioso que todo cidadão deve ser um ferrenho conservador, independente da sua posição político-ideológica: a democracia. É o que nos garante a expressão do contraditório, que permite que decisões sejam tomadas pela maioria, porém para isso, é preciso que a proposta convença baseado nos benefícios reais e verdadeiros para a maioria, e não para um grupo seleto de alucinados que se nutrem de fake news e teorias conspiratórias.

Vivemos em clima de tensão, porque não são só os execráveis indivíduos que compõem esse movimento infame que deflagrou uma das mais graves crises política do país, gerando comoção internacional de empatia, existem também aqueles outros que das telas de seus smartphones dão palavras de apoio ao ato de vandalismo que manchou a História do nosso país. Estes são tão culpados quanto aqueles!

Cada um de nós tem um dever como cidadão: zelar pela democracia, sem a qual, voltaríamos a viver tempos sombrios e regrediríamos séculos de evolução, desprezando todo o esforço que nossos antepassados realizaram até aqui para que pudéssemos viver tempos melhores que os deles. Temos por imperativo seguir seus exemplos e lutar para que as gerações futuras tenham tempos melhores que os nossos, e nisso está, sem sombra de dúvidas, o pensamento democrático como um pilar da construção da nossa sociedade, mas para isso não devemos tolerar o intolerante, jamais.

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